O mini-Eu
Mas algo mais era necessário, um ser mais refinado, mais capaz de pensar, um sábio, um legislador. Então nasceu o homem – dizem – à imagem de Deus ou da Terra – talvez – que tão recentemente apartada do velho fogo dos céus, ainda retinha alguma semente da força celestial que encantou os deuses ao surgir com vida do barro e da água. Todos os outros animais subitamente pareceram inferiores àquele ser; o Homem.
Só ele, ereto, conseguia levantar seu rosto para o Céu.
Acho interessante que em nenhum lugar Ovídio fala que Deus criou o homem. Na sua versão, o homem brota da terra. E, de novo, com duas possibilidades de interpretação: à imagem de Deus ou à imagem da Terra, atendendo ao gosto de fiéis e ateus. Imagino Deus observando suas criaturas: elefante, flamingo, cavalo-marinho, kiwi, e pensando… “Ainda não é bem isso… Dá pra ficar melhor”. Então ele volta para a prancheta e não resiste. “Ah, quer saber… que se dane. Eu vou fazer um mini-Eu!”