LOUVA-DEUS LOURIVAL
Lou-lou vivia numa bananeira que ficava plantada num vaso, num quintal muito lindinho. Era o quintal de um casal meio zen e meio budista. Os dois viviam viajando para a praia, para montanhas, para retiros de meditação e imersões de autoconhecimento. Mas no dia em que a Terra parou, o casal teve um treco. Eles não estavam acostumados a ficar em casa, trancados, entocados e confinados. Lou-lou só observava. Ele, pessoalmente, não se abalou com nada do que estava acontecendo. Ele era budista de nascença e sempre mantinha a calma. Todos os dias ele fazia o “owm”, de manhã, tarde e noite. Ele conseguia segurar a onda e manter a calma, sempre. Nada o tirava do eixo.
Porém, no sétimo dia da reclusão obrigatória, Lou-lou levou um susto. Ao acordar, deu de cara com o casal sentado ao pé da bananeira, entoando mantras, com os olhos fixos nele. Lou-lou abanou os bracinhos, num gesto muito claro que era para o casal sair fora. Então, a mulher virou-se para o marido e os dois trocaram sorrisos maravilhados. Eles voltaram a unir as mãos em frente ao peito e entoaram mais um montão de “owms”.
A partir desse dia, Lou-lou vem sendo venerado como um mini-deusinho. Ele ganha pedaços velhos de alface murcha e resto de manga. Ele considera o casal totalmente lelé da cuca e já explicou mil vezes que ele não vai atender pedido nenhum, mas o casal não liga. Eles veneram Lou-lou mesmo assim. Lou-lou se resignou e os três estão vivendo uma viagem bem louca, felizes e alegres, até que a vida volte ao normal.