JOANINHA ANINHA
Era uma vez, há pouquíssimo tempo atrás, uma joaninha chamada Aninha. Ela viva numa pracinha, na Vila Beatriz, perto de um ateliê de artesanato. O local era pop, colorido, frequentado por uma gente super moderna e criativa. Tinha tudo a ver com Aninha. Ela era uma otimista por natureza e se sentia muito bem ali, cercada por humanos inspirados que fabricavam suas próprias roupas, tinham cabelos coloridos e fotografavam tudo quanto é coisa, o tempo todo, desde postes, rachaduras no muro das casas, folhas caídas na calçada, e principalmente suas próprias caras de humanos sorridentes. Depois essas fotos eram usadas para compor montagens incríveis através de aplicativos do celular.
Aninha aparecia em diversas montagens, e sabia o motivo. Joaninhas são criaturinhas fofas e fotogênicas. Elas são uma espécie de mimo especial que a natureza inventou, como um arremate criativo. Ela era como a cereja no topo do bolo. Uma vez, um videomaker até fez uma brincadeira fundindo imagens da Aninha com uma cereja. Desde então, Aninha se achava a cereja do bolo.
No dia em que a Terra parou, a vida da Aninha não mudou em nada. Nadica de nada. Ela seguiu com sua rotininha de pequeno inseto abençoado. Continuou brincando com os amigos, participando do Clube do Livro, fazendo aulas de malabares e duas vezes por semana, indo ao encontro das bordadeiras urbanas. Ela estava trabalhando numa tapeçaria feita a partir de fios de cabelo e pelos de cachorro. Depois do almoço, ela entrava pela janela do ateliê de artesanato e dava uma olhadinha na internet, para se atualizar.
Ontem, Aninha acessou seus e-mails e escreveu para mim. Perguntou se seria possível aparecer no “Contos da Toca”, como um exemplo de criatura que está levando uma vida normal. Aninha achou que poderia alegrar nosso dia. Por isso, fica aqui essa historinha, em homenagem a ela.