Como escapei
A poção era amarga e viscosa. Desceu queimando pela minha garganta. Fiz uma careta e me sacudi da cabeça aos pés. Cobra coral me observava. Pé ante pé, fui me aproximando. De repente tive a impressão que havia alguma coisa diferente ali. Seus olhos estavam mais arredondados e havia um sorrisinho estampado no seu rosto. Ele deu uma piscadinha para mim e se mexeu de um jeito gracioso, como um gato enrodilhado mudando de posição em cima de uma almofada. Abri a tampa do vidro. Coral se enrolou no meu pulso. No braço direito. Não era gelado e gosmento, como eu temia. Sua pele era quente e assim que terminou de se enrolar, transformou-se num lindo bracelete vermelho, branco e preto, que parecia ter sido confeccionado conta a conta no meu pulso, de tão justo que era. Não havia fecho. Se eu quisesse tirá-lo, teria de arrebentá-lo. Olhei-me num espelho. Gostei. Combinava comigo. Senti então que precisava sair dali o quanto antes. Mas antes, havia uma última coisinha a fazer. Peguei o vidro vazio e lavei bem lavado na pia de pedra. Depois, mergulhei-o no caldeirão e enchi até a boca com a poção mágica.
De volta ao armário trancado, assim que encostei a mão na fechadura, notei uma ponta solta no bracelete. Era uma correntinha preta com uma chave vermelha na ponta. Destranquei a porta e saí. Depois simplesmente saí pela porta da frente da castanheira. Lá, fora, pensei…
“Eu bem que podia levar a vassoura mágica…”