CANÁRIO CAETANO
Era uma vez, há pouquíssimo tempo atrás, um canário chamado Caetano, em homenagem a Caetano Veloso. O bicho cantava lindamente e vivia feliz e contente, cantarolando por aí até o dia em que foi capturado e engaiolado. Caetano ficou chocado, é claro. Ele sabia de casos de passarinhos que são engaiolados e pendurados em varandas de apartamento, mas jamais achou que fosse acontecer com ele. Aconteceu, e ele ficou péssimo.
Mas Caetano tinha o espírito forte e não deixaria por menos. Ele encontraria uma maneira de passar seu recado e expressar toda a indignação que estava sentindo. Caetano estudou o comportamento do homem que o havia trazido para aquela lavanderia branca e sem graça. Logo descobriu que se tratava de um professor de inglês que – ironia do destino – também gostava de música e tinha gosto retrô.
Caetano teve uma ideia. Entrou em contato com o SAC – (Serviço de Atendimento aos Canários), e pediu a letra de um velho hit dos anos 90. Ele aprendeu a cantar “Freedom” de George Michael, como ninguém. Dia e noite ele cantava aquele tributo à vida livre. O tal professor de inglês, que até que era um cara sensível, entendeu o recado. No terceiro dia ininterrupto de George Michael, ele abriu a porta da gaiola do Caetano. Mas, como todos sabem, uma vez engaiolado, sempre engaiolado. Caetano já não conseguia mais sair voando, livre e solto, como antigamente. Mas agora ele conseguia cantar em outras lavanderias, compartilhando seu repertório com outros passarinhos. E assim, todos os canários de todas as lavanderias do prédio passaram a cantar odes à liberdade, em inglês, francês, português e espanhol. Os moradores tiveram que se resignar. Perceberam que manter passarinhos em gaiola era uma ideia de jerico e que o preço a pagar podia ser bem alto.